quarta-feira, 31 de março de 2010

Artigo

O Custo Brasil de um Aeroporto

A experiência é com o aeroporto do Galeão, o quarto do Brasil, logo atrás de Guarulhos, Congonhas e Brasília, que está em obras para a Copa e as Olimpíadas. Mas é provavelmente a mesma para todos os grandes aeroportos.

Quase cinqüenta banheiros já foram reformados. Mas todo fim de semana a Infraero tem que repor cerca de 100 peças novas. Torneiras roubadas, vasos quebrados, e até espelhos desaparecidos. Cada criança e adolescente pedinte, que consegue entrar no saguão ou ficar na calçada, faz cerca de 70 reais por quatro horas de trabalho.

Ganha provavelmente mais e trabalha provavelmente menos, do que seus pais se forem trabalhadores de carteira assinada. Os taxistas em vez de irem ao banheiro, pela pressa e comodidade não raramente usam as paredes e cantos.

Estes são pequenos exemplos, mas somem todos, multipliquem e terão uma idéia dos aumentados custos de limpeza, segurança e manutenção de um aeroporto. Este é um dos aspectos do que se denomina custo brasil.

Custo Brasil é uma expressão tipo slogan que inventaram para significar o custo adicional que o Brasil tem no cenário da competição global, e que não deveria ter. Daí o custo Brasil como lentidão da justiça. O custo Brasil como burocratização. O custo Brasil como sobrecarga na folha de pagamento. E por aí vamos. O que está por detrás deste custo Brasil dos aeroportos? E como evitá-lo?

Trata-se de um custo de falta de educação do exercício da cidadania. Não é um custo de falta de educação para o exercício de uma profissão, ou de uma qualificação técnica. É outro custo de educação, que não se aprende na escola. Mas poderia aprender.

Como se comportar diante do patrimônio público? Como se responsabilizar, como ser controlado? Como conviver na coletividade? Não se nasce sabendo. Mais do que educação é um processo positivo de socialização. Mas isto se aprende também. Basta lembrar que na China, antes da Olimpíada o governo fez campanha para mudar o hábito milenar das pessoas cuspirem no chão. Lá, hábito. Cá, falta de educação.

Administrar um aeroporto, segundo Willer Furtado, superintendente da Infraero, é administrar não apenas, no Galeão por exemplo, cerca de mil funcionários, mas administrar uma comunidade de cerca de 26 mil pessoas.

E como em toda a comunidade, problemas de educação surgem também. Em geral só se fala dos milhões que necessitam para completar obras. As obras vão estar prontas, tudo indica. Já a educação, não sei. O Brasil é um país curioso.

É capaz de ter sofisticadas disciplinas obrigatórias para o primeiro grau e ensino médio como arte e sociologia, mas na escola não se ensina, ou se ensina apenas excepcionalmente, cidadania, direitos, deveres, comportamento.

Acresça ainda outro fator lembrado pelo superintendente. Nos últimos anos uma nova classe social, de menor rendimento, teve felizmente acesso ao transporte aéreo. O que é muito positivo. Mas não tem a menor idéia do que seja check-in ou gate.

A maioria do quotidiano de um aeroporto é em inglês. E será mais ainda nas Olimpíadas. Não é por menos que na Coréia, os operários são alfabetizados nas duas línguas há décadas: inglês e coreano. Não é questão de desnacionalização. É questão de nacionalização no global.

Este descomportamento perceptível na comunidade de um aeroporto não é um comportamento mal educado, nem é natural do brasileiro, nem destino inevitável. É típico de um país onde a ascensão social está acelerada.

A família de ontem tem menos renda e menos educação do que a família de amanhã. Não pode transmitir o que não tem. Quem tem que fazê-lo e rápido é o governo e a sociedade civil organizada, no caso, as cooperativas de taxi, as companhias aéreas, os proprietários lojistas, a prefeitura, pois nem só de segurança vive um aeroporto ou um país.

Enviado por Joaquim Falcão

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