Para analistas, Cumbica peca por falta de conforto
Atendimento no aeroporto de Guarulhos é comprometido porque demanda cresce mais do que infraestrutura; Infraero prevê reforma
O aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, é reconhecido pelos passageiros como o melhor do Brasil, mas perde em qualidade de atendimento para aeroportos no exterior, segundo avaliações de passageiros reunidas pela consultoria Skytrax. A Infraero reconhece as falhas nos serviços e afirma que tem investimentos programados para melhorar o atendimento. “Para alcançar o padrão de qualidade internacional, é preciso aumentar o índice de conforto aos usuários”, diz Lucínio Baptista da Silva, superintendente da Infraero no aeroporto de Guarulhos.
As discrepâncias entre o atendimento aeroportuário no Brasil e no exterior ficarão mais evidentes a partir de 2014, quando será realizada a Copa do Mundo no País. Os 16 aeroportos das cidades-sede da Copa devem receber um volume extra de 2 milhões a 2,5 milhões de passageiros durante o campeonato. Em Guarulhos, a previsão do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) é que o movimento atinja 27 milhões de pessoas em 2014.
Mais do que adequar o aeroporto para receber a Copa, as obras programadas pela Infraero em Guarulhos visam ampliar a capacidade do aeroporto para atender a expansão da demanda por transporte aéreo no Brasil. Os problemas enfrentados pelo aeroporto, como filas e tempo de espera elevado para embarque e desembarque, se devem a um crescimento da demanda maior do que a infraestrutura pode atender dentro de um padrão de conforto, diz Silva.
Investimentos
O aumento da capacidade de Guarulhos depende da construção de um novo terminal de passageiros e do aumento do pátio de aeronaves. Hoje, há concentração excessiva de pessoas nos dois terminais existentes e, mesmo com as pistas livres, muitos aviões não podem pousar porque não há espaço no pátio de aeronaves. “Guarulhos precisa de um terceiro terminal para descongestionar os dois já existentes”, afirma o consultor em aviação Paulo Bittencourt Sampaio.
A principal obra prevista em Guarulhos nos próximos cinco anos é exatamente a construção de um terceiro terminal de passageiros. Com custo estimado de R$ 1,6 bilhão, o projeto adicionará ao aeroporto uma estrutura para atender mais 12 milhões de pessoas por ano. A previsão da Infraero é que o terminal comece a operar em 2014, mas depois da Copa do Mundo.
Até lá, a Infraero planeja reformas menores no aeroporto de Guarulhos. Neste ano, serão investidos R$ 7 milhões em ações como aumentar o número de postos de atendimento da Polícia Federal. Hoje, há 14 balcões de atendimento para embarque e 38 para desembarque. A meta da Infraero é ampliar neste ano para 20 e 68, respectivamente. A estimativa do superintendente do aeroporto é que a iniciativa reduza pela metade o tempo de espera nas filas de imigração.
Além de aumentar o número de balcões de atendimento, Guarulhos precisa investir em tecnologias de ponta que permitam acelerar os processos, afirma Respício do Espírito Santo, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O Brasil precisa modernizar seus aeroportos e usar as tecnologias de ponta disponíveis, como sistemas de biometria e leitores óticos de passaporte”, afirma Espírito Santo. Outra sugestão dele para Guarulhos é a implantação de softwares de gerenciamento de fluxo de bagagem, que facilitariam a busca das malas.
A Infraero também estuda a realização de um convênio com o Exército para a ampliação do pátio de aeronaves. A obra já foi iniciada, mas o Tribunal de Contas da União determinou sua paralisação por suspeita de superfaturamento dos custos. Para o brigadeiro Mauro Gandra, presidente da Associação Nacional das Empresas Concessionárias dos Aeroportos Brasileiros (Ancab), a ampliação pode diminuir os atrasos de voos e aumentar o fluxo de pousos e decolagens. “Muitos aviões ficam rodando no ar porque não podem pousar em Guarulhos, por falta espaço no pátio”, afirma. Além da ampliação, outra possibilidade de aumentar a capacidade do pátio é uma mudança na gestão do pátio, com novos rearranjos para as aeronaves, diz o professor Espírito Santo.
Para a Ancab, também é necessário melhorar a disposição dos estabelecimentos comerciais no aeroporto. “Os passageiros permanecem entre uma e duas horas na área restrita ao embarque, mas a maioria das lojas fica fora deste espaço. Houve um erro de concepção”, diz Gandra.
Conexões de voos
Muitos dos passageiros que desembarcam em Guarulhos não viajam para São Paulo, mas usam o aeroporto como ponto de conexão para outros destinos. O aeroporto liga a Grande São Paulo a 144 cidades de 26 países. Cerca de 40% dos voos da Gol com destino a São Paulo são conexões, por exemplo, afirmou o presidente da companhia aérea, Constantino Junior, no Fórum Panrotas, realizado em março.
Uma das possibilidades para desafogar Guarulhos é transferir parte das conexões para o aeroporto de Viracopos, em Campinas. “O maior aeroporto do Brasil deve ser Viracopos. Isso é o futuro. Mas hoje há uma demanda das companhias aéreas e dos passageiros de voos diários para locais mais próximos de São Paulo”, afirma Silva.
Ligação metro-ferroviária
Há dois projetos em estudo para ligação metro-ferroviária do aeroporto de Guarulhos, mas os dois continuam indefinidos. Um é o projeto de construção do trem de alta velocidade (TAV), o trem-bala, que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro e prevê uma estação no aeroporto. Outro é o Expresso Aeroporto, que prevê uma ligação por trilhos de Guarulhos com o centro de São Paulo e com o sistema de trens da Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM).
“Se houvesse conexão de trem com o aeroporto, 70% das pessoas usariam esse serviço para chegar ao local”, diz Gandra. O brigadeiro afirma ainda que a oferta deste meio de transporte pode reduzir o tempo de deslocamento do aeroporto para o centro de São Paulo, prejudicado pelo trânsito congestionado, e as filas para pegar táxi.
Segundo Silva, o superintendente da Infraero em Guarulhos, esses projetos estão em estudo nos governos federal e estadual, mas não envolvem a Infraero. “A existência de veículos que tragam passageiros ao aeroporto de forma facilitada é benéfica. Mas a Infraero não tem detalhes sobre os projetos”, diz Silva.
Fonte: Marina Gazzoni (iG)
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